“Bastou a insurgência iraquiana intensificar as suas acções para que se percebesse uma verdade já sabida, embora ocultada pela manipulação mediática: sem o apoio militar e a repressão terrorista da coligação ocupante americano-inglesa o poder fantoche iraquiano encarnado pelo primeiro-ministro Maliki rapidamente se desmoronaria”
Luis Carapinha*
Bastou a insurgência iraquiana intensificar as suas acções para que se percebesse uma verdade já sabida, embora ocultada pela manipulação mediática: sem o apoio militar e a repressão terrorista da coligação ocupante americano-inglesa o poder fantoche iraquiano encarnado pelo primeiro-ministro Maliki rapidamente se desmoronaria.
O facto é profundamente incómodo e inquietante para o imperialismo norte-americano. As areias iraquianas tornaram-se um atoleiro para os EUA, que em 2007 aumentaram o seu contingente militar para 160 mil soldados.
Há 15 dias, ao assinalar os cinco anos da invasão do Iraque, Bush declarara que os EUA estavam no caminho certo para obter uma grande vitória (Reuters, 19.03.08). A situação no terreno, onde as tropas «aliadas» já perderam mais de 4300 efectivos, desmente uma vez mais as suas palavras.
A escassos 10 meses da mudança de inquilino na Casa Branca, o desespero em mostrar o «progresso» dos seus sequazes precipitou a operação Ataque dos Cavaleiros, «conduzida» pelas forças iraquianas financiadas e armadas pelos EUA. A demonstração de força dirigida contra a desobediência civil convocada pelo denominado Exército de Mahdi, conotado com o líder político-religioso Moqtada al-Sadr, estendeu-se de Bagdad às principais cidades de maioria xiita do sul do país e contou com a participação, por terra e ar, de militares norte-americanos e britânicos. Mas após dias de intensos combates, centenas de vítimas e expirado o ultimato decretado por Maliki (que chegou a considerar os insurrectos «piores do que a Al Qaeda», Reuters, 29.03.08), a verdade é que as forças da resistência iraquiana detinham o controlo total ou parcial de Bassorá, Nassiriya e outras importantes cidades, o que atesta o apoio popular de que dispõem.
Importa ainda salientar que o recuo entretanto anunciado (segundo o USA Today.com de 30.03 negociado no Irão por representantes e aliados do partido de Maliki sob a mediação de um general iraniano...) não significou uma entrega das armas pela resistência e foi precedida pela reafirmação de Moqtada do objectivo estratégico do fim da ocupação do Iraque.
A luta pela libertação do Iraque é uma batalha longa e espinhosa. Uma batalha também de resistência contra o tempo, com os seus altos e baixos, avanços e recuos. A resistência à brutal ocupação e a recuperação da soberania e independência são um direito legítimo e sagrado do povo iraquiano que não pode ser confundido com o terrorismo.
O imperialismo sabe-o. Por isso, a invasão criminosa do Iraque – que dados insuspeitos indicam ter já provocado mais de um milhão de mortos entre a população iraquiana – não poupa esforços no sentido de criminalizar a resistência e apagar o seu carácter nacional. Nomeadamente através da multiplicação de massacres e da instigação da violência sectária.
Uma situação que só poderá ser ultrapassada através de esforços gigantescos de união das forças resistentes e superação das divisões e barreiras de cariz étnico e confessional.
Realidade que reforça a importância da solidariedade. Porque, tal como referido no acto público do PCP de denúncia desta guerra injusta, a resposta da resistência dá «objectivamente um contributo para a contenção dos intentos de dominação global do imperialismo norte-americano e para a esperança num futuro de paz, justa e duradoura, respeitador da soberania dos povos e da integridade territorial dos países».
Resistir é já vencer e o povo iraquiano resiste.
* Luís Carapinha é especialista em temas internacionais
[Este texto foi publicado em Avante número 1.792 de 3 de Abril de 2008][Voltar ao inicio desta nova]